top of page

O Caminho chamado Fé

Era uma quarta-feira qualquer. Já devia ser a segunda garrafa de vinho. A conversa, como sempre, estava ótima. A companhia da Rita é sempre a melhor do mundo. De repente ela solta a isca:


  • O pessoal está organizando uma caminhada.

  • Eu não vou.

  • Mas desta vez vai mais suave. Não vai ser aquela loucura do Caminho da Fé do ano passado.


O Caminho da Fé de 2020 foi uma lição para mim. Encontrei pessoas, conheci limites, aprendi coisas, me perdi e me encontrei. Foi uma das coisas mais impactantes que fiz na vida. Mas daí a fazer de novo?


  • Eu não vou.

  • Tá bom. Quer mais um vinho?


Este tipo de conversa com a Rita “Eu sei como começa, mas ninguém sabe o fim...”; melhor, não sei como começa, mas sempre sei o fim.



03/09 – Sexta-feira – O Violeiro


Sou violeiro caminhando só

Por uma estrada caminhando só (*)


O encontro foi atrás do Memorial da América Latina. O ônibus, mais espaçoso.

Aliás, tudo era “mais” neste ano.


Mais gente, mais apoio, mais organização.


Este ano, parte da receita arrecadada no evento foi destinada para um projeto tocado pelo Tavares e pela One9Social que, pelo esporte, ajuda algumas comunidades na construção de uma sociedade mais justa. Isto colocou mais propósito na jornada de todos.


Para não atrasar a chegada à pousada em Paraisópolis, foi decidido que o ônibus não pararia para o jantar e que cada um deveria trazer um lanchinho. Lanchinho? Tortas deliciosas, sanduíches de tirar o fôlego, sobremesas dignas de uma vitrine na Pierre Hermé (ahhh, aquele brownie...).


No fundo, como mágica (e com um pouco de vinho e cerveja) todos colocando o seu lado mais adolescente para fora, do mesmo jeito que as deliciosas e saudosas viagens do tempo de colégio.


A pousada também parecia mais bonita do que no ano passado. O charme dos casarões de fazenda presente em cada detalhe. Um encanto. Pode ser que tenham sido meus olhos. É muito bom voltar para um lugar onde sua alma chama de seu.


Desta vez eu também estava “mais”.


Mais pesado, mais despreparado, mais desesperado.


A organização, primorosa em todos os detalhes, nos ofereceu uma pulseira com nosso nome e um código. Com este código, seria possível, em caso de algum contratempo maior, acessar um site com, além dos nossos dados pessoais, as questões médicas mais relevantes. Confesso que o termo “contratempo maior” só aumentou o desespero, mas pelo menos eu tinha o conforto de saber que, em caso extremo, saberiam para onde mandar o corpo.


Hora de dormir. Tensão no ar. Está chegando a hora. Está bem mais próximo do que eu gostaria.


  • Está tudo bem, pensava comigo. Subo no carro de apoio na hora que eu cansar, precisar ou quiser.

  • Boa noite John Boy.

  • Boa noite Mary Hellen.


04/09 – Sábado – O Caminho


Parece um cordão sem ponta

Pelo chão desenrolado

Rasgando tudo que encontra,

A terra de lado a lado (*)


Todos acordando e chegando para o café da manhã.


- Dormiu bem?

- Preparado?


Todos contando os seus causos. Todos preparando o espírito.


Está chegando a hora.


As pessoas começam a se juntar na frente da pousada. Tocas, bonés, chapéus. Shorts, bermudas, calças. Manga curta, manga comprida, regata. Mochila, pochete, sacola. O dress code de quem sai para caminhar/correr grandes distâncias é mesmo uma coisa peculiar. Mas acho que isto fica para uma outra história.



Informações técnicas sobre o dia que teremos. As setas que indicam o caminho. Os cuidados para não se perder (vou ter que ouvir isto para o resto da minha vida). O ritmo de cada um. O carro de apoio que vai estar a cada 4 km. As subidas e descidas. Os 900 metros de altimetria da subida da Luminosa. Algumas pessoas ainda continuam sorrindo. A ignorância, às vezes é uma dádiva.


Eu só pensava comigo:


- Coitadinhos...


Tudo pronto, mas, para mim, a jornada só começa quando o Marcelo nos faz pensar que estamos fazendo o Caminho da Fé. Poderia ter qualquer nome. Caminho para a Basílica, Caminho para Aparecida, Caminho dos Peregrinos, mas não, é o Caminho da FÉ e com esta reflexão, ele nos convida a olharmos para dentro. Dentro de nós. O que nos move? Em que acreditamos? E, acima de tudo, lembrar que a fé começa acreditando em nós mesmos.

Pronto, podemos começar.


O Marcelo também nos lembra que não existem florestas de ipês amarelos. Mas existem ipês amarelos nas florestas. E assim, começamos a ser, cada um no seu ritmo, os ipês amarelos distribuídos na “floresta” do caminho.


Os grupos começam a se formar. Os iguais se reconhecem e se atraem. A organização não deixa ninguém sem apoio.

- Ninguém fica para trás.



As estradas por onde passamos são lindas. Acho que se for para andar sem contemplar as belezas que vão surgindo umas após as outras, é melhor ficar na esteira. Milagres por todos os lados. O limoeiro carregado. A água correndo logo ao nosso lado. As setas amarelas. As flores umas mais lindas que as outras. A paisagem maravilhosa. Tudo no caminho tem um poder de oração.


“Quanto maior o desafio, maior a vitória...”

“Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida...”


As palestras, livros e pensamentos sobre motivação estão cheias de frases deste tipo.


Provavelmente estes palestrantes, autores e filósofos nunca subiram a Luminosa.


Depois de umas 4 ou 5 horas de subidas e descidas chegamos ao distrito que dá nome à famosa subida. O distrito de Luminosa. Um amontoado de casas e pequenos comércios em torno de uma igreja no município de Brazópolis/MG.


A parada mais longa do primeiro dia acontece justamente na frente desta igreja. Bancos de cimento, sombra gostosa, sorvete na padaria da esquina, pipiroom (uma pequena trégua para os matinhos do caminho). Hora de consertar os pés, comer alguma coisa, descansar um pouco.


Lembro bem que adorei esta parada no ano passado. A ignorância é amiga íntima da felicidade.

Aquilo que vem pela frente é desumano. 10 km de subida praticamente sem sombra com apenas 2 paradas. A pousada da Dona Inez com seu chuveiro celestial e o restaurante Oásis com sua cerveja obrigatória.


Desta vez foi só o tempo de pegar os carimbos da credencial e seguir em frente.


O sentimento que se tem nesta subida é que, quando você acha que tudo está perdido, você descobre que ainda tem muito a perder.



Mas não há como negar que, ao chegar ao asfalto, que avisa o fim da subida, acaba aflorando um sentimento difícil de explicar. Um misto de orgulho, exaustão, dever cumprido, sede, felicidade. Talvez seja somente falta de oxigênio no cérebro.


Mas o desafio do dia ainda não acabou. Ainda faltam 4 intermináveis quilômetros margeando o asfalto. A cada curva a gente acha que vai chegar. Mas, depois de uma curva vem sempre outra curva. A entrada do caminho para a Pedra do Baú é sinal de que estamos muito perto.


A visão da entrada da pousada Barão Maltês é praticamente a visão do céu.


Acho que a recepção para quem chega, feita pelo pessoal que chegou antes juntamente com os organizadores, é uma das partes mais emocionantes do dia. Olho marejado. Deve ser um cisco.


O banho após o dia de caminhada é seguramente o momento mais especial. O divisor (literalmente) de águas da dignidade. O momento de retomar a posse do seu corpo.

Comida deliciosa. Vinhos e causos. Mais vinhos e mais causos. Sentimento de orgulho.

A Rita e eu engatamos numa conversa boa e fomos os últimos a ir para o quarto dormir. Já era tarde. Umas 20h30.


Tá bom. Sou Nutella. Dormir em 12 pessoas num quarto? Impensável para alguém que só aprendeu a andar de sandália havaiana depois de casado. Mas a forma como o dia passa não deixa nem isto passar pela minha cabeça.


As brincadeiras de adolescente voltam a aparecer, mas logo vão sendo substituídas pelo silêncio de um sono profundo.


Quem dorme cedo acorda mais cedo ainda. Alguém vai ao banheiro. É o suficiente para espantar o sono de vez e começar a fazer minhas orações e reflexões. Um filme sem começo e sem fim a passar continuamente. Imagens, pessoas, situações, sentimentos e emoções. Só vinham coisas boas. Uma sensação de acolhimento gostosa de estar tão perto de gente com a mesma jornada, mesmo cansaço, mesmo propósito.


A segunda noite é a melhor de todas.



05/09 – Domingo – Os encontros


Segue em frente, violeiro,

Que eu lhe dou a garantia

De que alguém passou primeiro

Na procura da alegria

Pois quem anda noite e dia

Sempre encontra um companheiro (*)


Acordar bem cedo.


O café da manhã do segundo dia foi delicioso. Talvez tenha sido o estado de espírito de todos ou o cheirinho do fogão à lenha mesmo. Para mim, era o medo se transformando em alegria.


O protetor solar, o gel para pés, o micropore nos mamilos, a proteção nos dedos dos pés...

Hora de começar.


Não basta o dress code ser peculiar. Tem que ser diferente do dia anterior.


Todos reunidos. Fotos, instruções, caminhada.


Começo caminhando. Depois, aperto o passo. Depois, ensaio um trotinho. Depois, começo a correr. Mas, desta vez bem atendo. Sei bem onde não posso me perder.


Se o fato de me perder em 2020 foi motivo de um ano inteiro de brincadeiras, me perder novamente significaria aumentar a validade destas brincadeiras para o resto da vida.



Em alguma subida qualquer emparelho com alguns peregrinos.


- Oi, Victor. Lembra de nós? Estávamos fazendo o caminho no ano passado quando você nos ajudou com as nossas coisas. Falamos muito de você desde então.


Lembro bem. No ano passado, esta turma estava prestes a subir a Luminosa quando eu os encontrei. Sem apoio, todas as coisas deles estavam nas pesadas mochilas que eles tinham nas costas. Perguntei se eles gostariam de colocar suas coisas no nosso carro de apoio e pegar à noite na nossa pousada. Adoraram a ideia. Encontro inesperado e delicioso. Às vezes achamos que o bem que tentamos fazer não serve de nada. Neste caso serviu.


Aliás, talvez os encontros sejam algumas das melhores coisas que acontecem no Caminho da Fé. Os encontros de quem está no mesmo ritmo e se junta sem planejar para caminhar alguns metros ou quilômetros. Os encontros com pessoas que você não conhece, mas que têm tantas histórias para contar. Os encontros com romeiros trazendo orgulhosos a imagem da Padroeira. Os encontros com peregrinos no caminho. Os encontros com os donos dos pontos onde são distribuídos os carimbos para as credenciais. Os encontros de quem simplesmente resolve recomeçar a caminhada junto com você depois de uma parada para água. O aprendizado é grande demais. Às vezes achamos que o mundo gira em torno do nosso próprio umbigo.


Estes encontros nos fazem ter a real dimensão deste universo maravilhoso chamado Gente.


O segundo dia, na verdade, é dividido em 2. Por conta das ruas estreitas e movimentadas de Campos do Jordão, seria muito perigoso fazermos o trecho da cidade andando ou correndo.


Caprichosamente, o ônibus estava à nossa espera logo a entrada da cidade para nos deixar depois na entrada do horto. Hora de amontoar. Descansar um pouco, enquanto se espera quem vem atrás. Sanduíches de pão com salame e queijo que parecem um banquete. Água e suco gelados que acariciam o coração. Vinho da Mosquita Muerta para quem acha que qualquer encontro é motivo de comemoração.


Olhando pelas janelas do ônibus, ao passar por Campos do Jordão, entendi um outro motivo – não revelado – para não fazermos esta parte do caminho a pé. Se no ano passado eu me perdi por algumas horas porque errei o caminho, deixar nosso pessoal nas lojinhas e bares da cidade talvez fizesse algumas pessoas se perderem para sempre.

A saída do ônibus e a retomada da caminhada depois do translado é bem difícil. Quando alguma coisa se encontra em quaisquer condições de existência tende a conservar-se nesse estado, quer esteja em repouso, quer esteja em movimento. A parada nos faz sentir no corpo a definição plena da palavra inércia.


Sol a pino. Estrada vazia. Sombra, quase nenhuma. De repente eu estava sozinho com meus pensamentos e orações. Como um filme, a cada passo lembrava de alguém importante na minha vida. Primeiro a família, claro. Depois os colegas – agora amigos de caminhada. Depois os outros amigos mais próximos. Depois os não tão próximos. Depois até pessoas que passaram pela minha vida e que, de alguma forma, deixaram marcas. Queria mandar para cada um deles uma luz especial. Um sopro de amor e de vida. Sem perceber este sopro foi impulsionando a caminhada e sem pensar, na primeira descida eu estava trotando. Depois corrida. Depois eu já tinha chegado.


Acho que o amor e a oração têm este poder.


Chegar um pouco mais cedo na pousada foi delicioso.


Acabar a energia elétrica bem na hora do meu banho foi uma m...


Mas, abrir um vinho e enxergar os milagres com uma das vistas mais lindas que se pode ter foi mágico.



Vários vinhos depois, hora de dormir. Um pouco mais cedo do que no dia anterior.


Com um pouco menos gente do que no dia anterior.


Com um pouco menos de conforto do que no dia anterior.



06/09 – Segunda-feira – Os Outros


Minha estrada, meu caminho,

Me responda de repente

Se eu aqui não vou sozinho,

Quem vai lá na minha frente?

Tanta gente, tão ligeira,

Que eu até perdi a conta (*)



Tem gente que tem medo de subida. Sim, subidas matam a gente lentamente. Eu particularmente não conheço nada igual à Luminosa. Mas acho que as descidas matam a gente de uma vez. Principalmente para quem tem os joelhos torturados por treinos e corridas de uma vida inteira.


Café da manhã espartano.


Todos os cuidados para mais um dia de caminhada.


Comprei um par de meias do Caminho da Fé na própria pousada. Se não melhorou meu estilo, pelo menos serviu para um sem-número de inícios de prosa. Ou ainda, para que quando as pessoas me disserem que fizeram a meia de Buenos Aires, de Paris, de Porto Alegre, de Mendoza, eu possa responder que tenho a meia do Caminho da Fé.



Eu estava morrendo de medo da descida que iríamos enfrentar. Dos 1550 metros de altitude da Pousada Trutaria onde estávamos até os 500 metros da Basílica.


Sinto que o medo de entrar em um quarto escuro é sempre maior do que o medo de qualquer monstro que a gente possa encontrar lá dentro.


Como nos outros dias, cada um sai no seu ritmo. Aquela imagem de ipês amarelos na floresta não sai da minha cabeça. Gente muito ligeira e gente menos ligeira que eu até perdi a conta. Dá um conforto saber que mesmo quando estamos sozinhos, estamos todos juntos.


Da mesma forma que no dia anterior, comecei andando. As pedrinhas do caminho são um convite aos escorregões. Talvez dê para andar um pouco mais rápido. Uma foto. Uma farra. Estão todos mais leves no último dia. Acho que dá para dar um trotinho. Quando chegou o asfalto eu já estava correndo, ou melhor, controlando a queda.


Fui achando um ritmo confortável. A vontade de chegar estava enorme. De repente, depois de uma parada qualquer, ganho a companhia de um anjo. Aquele que transmite a mensagem, orienta nos perigos e fortalece no propósito.


E, em particular, o anjo que encontrei tinha ouvidos pacientes e boca boa para cerveja.



Falamos sobre a vida, sobre família, sobre passado e futuro. Bebemos uma cerveja que naquele momento pareceu a melhor do mundo.


De repente o anjo me mostra lá ao longe, a Basílica. Coração batendo mais forte. Impossível conter algumas lágrimas.



Continuo minha jornada, apresso o passo. Quando olho de lado, o anjo não estava mais lá, entendendo que eu estava bem encaminhado e que talvez precisasse de um momento só para mim, foi cuidar de outros fiéis.


Obrigado, Vivi.

O trecho final por onde o caminho passa não é bonito. Uma região um tanto degradada.


Mas acho que isso não importa para ninguém. Você sabe que está perto do seu destino, mas não consegue vê-lo.



De repente, em uma calçada estreita, a seta que te acompanhou por todo o caminho se transforma em 2 e desta vez, apontando para a direita.


Você chegou. Sim, você chegou.


Tudo vem à cabeça nesta hora.

Algumas pessoas choram. Algumas pessoas se ajoelham. Algumas se abraçam.


Levar a sua Fé até fim do Caminho é algo tão grandioso para a alma que confesso, não encontro palavras para descrever.


É claro que a organização primou por todos os detalhes até o final.


Uma pousada exclusiva para podermos tomar banho, nos arrumar e almoçar. Translado para a Basílica. Foto caprichada de toda a turma e volta trazendo algumas dores, mas trazendo também uma conexão com algo muito maior do que nós (e desta vez, com todas as unhas também).



07/09 – Terça-feira – Os Aprendizados


Muitas coisas tenho visto

Nos lugares onde eu passo

Mas cantando agora insisto

Neste aviso que ora faço

Não existe um só compasso

Pra contar o que eu assisto (*)


A gente sai do Caminho da Fé, mas ele não sai da gente. Uma semana depois desta caminhada, um montão de coisas continuavam aflorando dentro da minha cabeça.


Descobri, depois de muitos anos e muitos joelhos ralados, que tenho bem mais a aprender do que a ensinar na vida.


Mas, sem nenhum intuito de ensinar ninguém, queria compartilhar algumas coisas que brotaram ao fazer o Caminho da Fé pela segunda vez e que talvez possam fazer sentido para quem quiser se meter nesta jornada. Com certeza vou levar estas ideias também para minha vida. No mínimo, como bons conselhos.


1. O Hardware


É preciso cuidar do corpo.


Ou, como dizia Vinicius de Morais, “A vida é uma só. Duas mesmo que é bom ninguém vai dizer que tem, sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida”.


Talvez o corpo seja o bem mais precioso que recebemos. Não dá para cuidar dele somente nos 3 dias de caminho mais os 15 de preparação. É preciso cuidar do corpo nos outros 347 dias também. A gente sabe o que tem que fazer. Só precisamos fazer o que sabemos que tem que ser feito.


2. O software


Nenhum preparo por mais primoroso que seja substitui uma cabeça boa.


Parece piegas, mas a gente tem que aprender a se aceitar e se amar. Do jeito que somos. Mas também não podemos ter tanta peninha de nós mesmos. Aceitar nossas limitações não quer dizer se conformar com elas.


3. O equipamento


Cuidado para não deixar seu equipamento pesado demais.


No ano passado levei mochila, álcool gel, camiseta extra, carteira, dinheiro, barra de cereais, carregador de celular, cartão de visitas...


Coisas que deixavam minha cabeça nerd mais confortável, porém o peso de levá-las era enorme para o meu corpo.


Tem que dar um jeito de levar água. Sempre. O resto é penduricalho.


Na vida é assim também. Vamos acumulando coisas na nossa “mochila” e quando nos damos conta, viver passa a ser um exercício superpesado.


4. Os sinais


Fique ligado aos sinais.


Muitas vezes, de tão compenetrados na atividade, esquecemos do mundo à nossa volta. Os sinais estão em toda parte, só precisamos estar atentos. Às vezes para corrigir os rumos. Às vezes para confirmar que estamos no caminho certo.


5. Os outros


Ninguém está preocupado com a sua dor.


Andando pelo caminho, sol batendo forte, cansaço, sede...


Todos que passam devem estar sentindo meu esforço. Só que não. Quantos carros passaram levantando uma poeira enorme sem a menor compaixão (nem educação)? Na verdade, cada um está simplesmente vivendo a sua vida e não tem a menor noção das pessoas que o cercam...


6. O cenário


Quando você vai rápido demais, de tão preocupado onde deve ser a sua próxima passada, você acaba esquecendo de enxergar tudo que está à sua volta.


O Caminho da Fé é lindo. Contemplar as belezas ao redor é um presente até maior do que o destino.


Aliás, acho que na vida também é assim. É preciso se concentrar no destino, mas não podemos esquecer de curtir o caminho.


7. As pequenas metas


Parece que, quando a gente não consegue enxergar o objetivo final, a gente esmorece a caminhada.


Quando eu era pequeno, vivia com os joelhos machucados. Lembro que em umas destas inúmeras quedas, minha mãe ao passar o saudoso Merthiolate (que ardia e, portanto, curava) me disse:


- Quando você entrar no exército vai passar.

- Quando eu for fazer exército a senhora já morreu.


Graças a Deus, fiz CPOR em 1978 e minha mãe continua até hoje por aqui passando Merthiolate nos meus machucados da alma


Mas, para uma criança, enxergar algo tão distante é impossível.


Não sei se as coisas não mudaram ou eu é que não cresci, mas para tangibilizar as metas, fui fazendo pequenos pactos comigo mesmo. Vou correr até aquele poste. Continuar na subida até aquela sombra. Vou parar para tomar água naquela porteira.


8. O princípio da água derramada


Sim, neste trecho que fizemos existem algumas descidas enormes e algumas subidas insanas.


Para todas as outras usei o famoso “princípio da água jogado no chão”.


Jogue um pouco de água no chão. Se ela escorrer para frente o ambiente está favorável. Hora de correr. Se a água correr para trás. Cuidado. Hora de andar.


É um princípio muito famoso desde que foi criado no Caminho da Fé em 2021.


9. A comemoração

Ah...como a gente gosta de reclamar. O que dói. O que não deu certo. O que fizeram conosco. Mas tantas vezes esquecemos de comemorar.


Acredito que um desafio só é de fato concluído, quando, ao seu término ouvimos uma vozinha lá dentro falando.


- Que legal, você é realmente f...


Tenho certeza que isto fornece uma energia enorme para os outros desafios que certamente vêm.


10. As distrações


Encontrar um carro de apoio no meio do caminho é sempre um alento. Um sanduíche, um saquinho de amendoins ou castanhas, um gomets (que delícia), hidratação...


Dá vontade de sentar e ficar. Sim, também tem sempre um banquinho.


Na vida da gente é assim também. As distrações estão por toda parte.


Fiz um acordo comigo. Alegria, hidratação, alguma comida e estrada.


Como eu disse anteriormente, pelo menos para mim, retomar o ritmo depois de uma longa parada é muito mais difícil do que se manter em movimento.



11. Os alicerces


Não dá para imaginar um edifício sem alicerces. Os nossos pés são os nossos.


Numa jornada como a do Caminho da Fé é preciso um cuidado extra com eles.


Este cuidado começa com um bom tênis 1 ou 2 números maior do que você está acostumado a usar.


Depois vem a sessão podologia. Micropore envolvendo os pontos de maior atrito. Gel para as regiões de maior desgaste. Nexcare nas partes mais sujeitas às bolhas.


No ano passado só fui me preocupar com isto quando já era tarde. Passei o resto do ano reclamando.


Desta vez foi muito bom ver como o cuidado traz resultados. Meus pés estavam inacreditavelmente bons já no dia seguinte da minha volta.


Acho que realmente vale a pena cuidar dos alicerces da nossa vida também.


12. O ritmo


Vá no seu ritmo e busque sempre o seu melhor.


Não se meça pelo ritmo, nem pela performance dos demais.


Não importa se você não é tão bom quanto o Camilo, uma vez que você não é o Camilo.


Também não importa você não ser tão rápido quanto à Roberta Pacca, uma vez que você não é a Roberta Pacca.


O problema é você não ser nem tão bom, nem tão rápido quanto você mesmo pode ser.



08/09 – Quarta-feira – A Gratidão


Eu também quero um dia poder levar

Toda gente que virá

Caminhando, procurando

Na certeza de encontrar (*)



Confesso que me sinto de certa forma impostor por tentar compartilhar coisas sobre atividade física e sobre fé com pessoas que certamente sabem mais do que eu.


Mas espero conseguir, de alguma forma, inspirar a quem ainda virá para este caminho, a ter uma caminhada tão boa como foi a minha.


Além disso, não posso terminar sem agradecer.


Agradecer algumas pessoas e grupos que talvez, até sem saber, me ajudaram muito nestes 3 dias e acredito que me tornaram hoje uma pessoa pelo menos um pouco melhor.


Quero agradecer a todos usando o nome destas pessoas e grupos.


Obrigado Marcelo pela espiritualidade e maturidade que você traz só por sua presença em todos os lugares onde você está.


Obrigado Ricardo e Roberta por nos mostrarem na prática o que são 2 corações agindo com compaixão e simplicidade.


Obrigado às pessoas com quem dividi a estrada pela paciência de ouvir um sem número de causos e piadas sem graça e pelo carinho de, apesar de tudo, rir delas.


Obrigado às pessoas que saíram na frente e mantiveram o ritmo forte durante todo o tempo pelo foco e pela alegria com que vencem os seus desafios.


Obrigado ao pessoal de trás (a quem confesso que traí desta vez) por nos ensinar que coragem não é ausência de medo, é a sabedoria de agir com superação, apesar do medo.


Coragem de enfrentar desafios, coragem de entrar no carro de apoio, coragem para seguir em frente.


Obrigado ao pessoal do apoio e organização pelas dicas, sorrisos e pelo o cuidado oferecidos a cada um de nós durante todo tempo.


Obrigado Tavares por me ensinar que quem tem limite é município e que o que você nos oferece é doação e competência sem limites.


Obrigado Rita pelo amor e parceria demonstrados e vividos nestes últimos melhores 33 anos da minha vida.


Obrigado Deus por este presente maravilhoso chamado vida.



Mas no ano que vem:


- Eu não vou!




(*) Música Inspiração

A Estrada e o Violeiro – Sidney Miller

Prêmio de melhor letra no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1967

88 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page